No Brasil, poucas produções tiveram o poder de mobilizar toda uma nação em frente à televisão como Roque Santeiro. Exibida pela TV Globo entre 24 de junho de 1985 e 22 de fevereiro de 1986, esta novela alcançou números impressionantes de audiência — consolidando-se como a mais assistida da história da teledramaturgia nacional. Em seu capítulo final, atingiu 96 pontos, com picos de 100% dos televisores ligados, segundo dados do IBOPE.
Mas o que faz dessa trama um marco incontestável? Nesta matéria, exploraremos:
- O contexto histórico e a gênese da novela;
- Os personagens inesquecíveis e o impacto sociocultural;
- Os recordes de audiência que até hoje são referência;
- Curiosidades e bastidores;
- O legado duradouro na cultura popular e na teledramaturgia.
O Contexto Histórico e Artístico
Antecedentes e o Vazio da Censura
Originalmente escrita por Dias Gomes, a versão de Roque Santeiro estava pronta para estrear em 1975, mas foi suspensa pela censura do regime militar — por criticar o autoritarismo e abordar temas como fanatismo religioso. A trama voltou aos estúdios um década depois, revisitada e coescrita por Aguinaldo Silva, gerando uma obra ainda mais forte e atualizada para o Brasil dos anos 80.
A Vingança Editorial
A reestreia em 1985 não foi apenas um relançamento: a nova versão reposicionou a história, trazendo um tom mais satírico e crítico — mas sem perder o humor e o carinho pelos personagens. Foi a combinação perfeita entre crítica social e entretenimento.
A Cidade de Asa Branca e Seus Habitantes
O Enredo Central
A história se desenrola em Asa Branca, cidade fictícia controlada por integrantes poderosos que lucram com o mito de um “santo mártir” — Roque Santeiro, vivido por José Wilker. Porém, o que o povo acredita ser uma figura divina é, na realidade, uma farsa. Quando Roque ressuscita 17 anos após sua morte, isso ameaça desmontar o esquema político e religioso que movia a cidade.

Personagens Icônicos
- Viúva Porcina (Regina Duarte): arrogante, persuasiva e dona de frases inesquecíveis, tornou-se símbolo da novela.
- Sinhozinho Malta (Lima Duarte): coronel sedutor que domina o rádio local.
- Roque Santeiro (José Wilker): protagonista carismático, questionador de sua suposta santidade.
O equilíbrio entre protagonistas, antagonistas e uma galeria de coadjuvantes ricos em personalidade foi essencial para a identificação do público.
A Quebra de Recordes de Audiência
Métricas Históricas
- Média geral: 74 pontos no IBOPE, a maior de todos os tempos até hoje.
- Pico histórico: 96 pontos no capítulo final, com 100% dos televisores ligados.
- Outros picos: Em 20 de agosto de 1985 (episódio 50), a novela já havia alcançado 81 pontos pela primeira vez.
Comparativos com Outras Novelas
Embora existam controvérsias — Boni, ex-diretor da Globo, e Aguinaldo Silva mencionam Tieta como concorrente próxima — o consenso entre IBOPE e pesquisas jornalísticas posiciona Roque Santeiro como a novela mais assistida de todos os tempos.
Curiosidades e Bastidores
O Retorno após 10 Anos
O mar de expectativas gerado pelo cancelamento de 1975 ajudou a construir um clamor popular que explodiu em 1985. A Globo capitalizou isso com uma campanha massiva.
Os 100% de IBOPE
O último capítulo marcou 96 pontos médios e 100% de conversão, ou seja, todos que assistiam à TV, estavam vendo Roque Santeiro. É um índice considerado inatingível nos padrões atuais.
Produção e Elenco
A trama foi dirigida por Paulo Ubiratan, Sérgio Rezende e Herval Rossano. O elenco reuniu estrelas como Regina Duarte, Lima Duarte, José Wilker, Cláudia Raia e Yoná Magalhães — um time de peso que garantiu camadas dramáticas, humor e apelo popular.
Financiamento e Impacto Econômico
A novela influenciou consumo: de trilha sonora em LP aos bordões como “Cadê o Zé?” e “Eita, Porcina”. Marcas se associavam tematicamente, e os produtos ganhavam maior visibilidade.
O Legado Sociocultural
Influências no Humor e na Mídia
Roque Santeiro integrou o imaginário nacional. Paródias surgiram em programas humorísticos como Casseta & Planeta, e os bordões ainda são referência em memes e redes sociais.
Impacto na Teledramaturgia
A narrativa misturava crítica, humor, misticismo e crítica política — inspirando novelas posteriores como Vale Tudo (1988) e Tieta (1989). A abordagem híbrida de crítica social e enredo cativante tornou-se padrão para o gênero.
A Cultura Popular
“Porcina” virou apelido em rodas de amizades. A novela foi objeto de estudos acadêmicos sobre poder, fé e manipulação. Museus, mídias, artistas plásticos e documentários revisitam a trama para entender seu fascínio duradouro.
Comparativo das Maiores Novelas em Audiência
Novela | Ano | Média IBOPE | Pico / Cap. final |
---|---|---|---|
Roque Santeiro | 1985–1986 | 74 pts | 96 pts (final), 100% TV ligadas meionews.com+6pt.wikipedia.org+6meuvalordigital.com.br+6 |
Tieta | 1989–1990 | 65 pts | 78 pts (último capítulo) |
Top Model | 1989–1990 | 64 pts | Terceira maior audiência |
O Salvador da Pátria | 1989 | 62 pts | Quarta colocada |
Roque Santeiro não apenas lidera em média, mas bate recordes de pico que ainda soam praticamente inalcançáveis no contexto atual.
Roque Santeiro permanece como o ápice da teledramaturgia brasileira em termos de alcance nacional e impacto cultural. Por sua complexidade narrativa, personagens lendários, humor refinado e crítica social ácida, a novela não só marcou recordes de audiência como moldou o gênero para as décadas seguintes.